Ação e Reflexão no Teatro de Rua do Brasil

V Encontro da Rede Brasileira de Teatro de Rua e

XIV Encontro Nacional de Teatro de Rua de Angra dos Reis



Dois importantes encontros aconteceram em abril e maio de 2009, respectivamente, aglutinando fazedores, pesquisadores de teatro e militantes da Cultura que lutam em prol da criação de políticas públicas de estado para as artes .

A Aldeia de Arcozelo situada no interior do estado do Rio de Janeiro na cidade de Paty dos Alferes já foi palco de inúmeras manifestações artísticas, recebeu articuladores de 17 estados da Rede Brasileira de Teatro de Rua que durante os dias 20, 21, 22 de abril se debruçaram sobre questões pertinentes a sua organização e outros assuntos como ética, estética, políticas púbicas para o teatro e a troca de informações sobre a situação dos coletivos de cada Estado.

A Rede Brasileira de Teatro de Rua é formada por movimentos de teatro de todo Brasil, artistas independentes e militantes da cultura que somam não só na quantidade, mas na qualidade dos debates e propostas que visam o fortalecimento e o crescimento de uma rede horizontal e democrática.

Gostaria de destacar nesse breve relato o conceito de articulador que vem sendo utilizado pelos participantes da Rede e amplamente debatido nesse V encontro.Todos somos articuladores e podemos nos colocar onde considerarmos necessário e prudente, de forma ética e responsável, levando sempre em conta as decisões e princípios tirados pelo coletivo.

Vários foram os motivos que nos mobilizaram até chegarmos a esse consenso e, um deles, é o de que em um Brasil imenso, com diferentes realidades, em um coletivo formado por tantos pensamentos, nenhum deles deve representar o todo. Cada parte desse todo tem a sua visão, a sua particularidade que está ligada pela idéia central que é o Teatro de Rua. O que a princípio pode sugerir falta de organização e superficialidade é o que confere a Rede princípios de horizontalidade, democracia e respeito às diferenças, onde as decisões tendem a ser consensuais e presenciais, apesar da grande atividade no fórum virtual.

Dentre as deliberações tiradas deste V encontro destaco o apoio da Rede ao Movimento 27 de março – SP; a criação do Núcleo de Pesquisadores e reafirmar o posicionamento deste coletivo contra qualquer forma de financiamento para as artes vinculado a renúncia fiscal, reiterando a nossa convicção na criação de programas públicos para a cultura com financiamento direto do Estado.

Estavam presentes 80 articuladores de 17 Estados, dentre os quais 20 de São Paulo, que contaram com o apoio da Cooperativa Paulista de Teatro, que acredita na importância de encontros nacionais como o da Rede Brasileira de Teatro de Rua. Dentre estas vinte pessoas haviam militantes de outros coletivos como do Fórum de Cultura do Butantã, Roda do Fomento, Movimento 27 de Março e Movimento de Teatro de Rua de São Paulo.

Foi um grande encontro mas há muito a fazer, muito a caminhar, muito a debater, muito a pesquisar, muito a apresentar, muito a VIVER.



de Arcozelo a Angra.



Angra dos Reis – RJ, palco do XIV Encontro Nacional de Teatro de Rua de Angra dos Reis. Essa Mostra existe há 18 anos e há uma lacuna de quatro anos na sua realização. Fica uma pergunta, por que?

Mudança de governo? Falta de verba? Falta de articulação política ou simplesmente falta de vontade?

Não quero me ater muito neste ponto apenas dar luz ao assunto que considero importante e que tem a ver com um dos princípios da Rede Brasileira de Teatro de Rua: a criação de uma política pública para a Cultura que não dependa do bom humor do administrador público de plantão que tem o poder de decidir e escolher que tipo de manifestação cultural irá privilegiar, como se investir ou fomentar a cultura fosse um privilégio.

Vamos mudar o rumo da prosa. O encontro reuniu grupos de teatro, artistas performáticos, pensadores, pesquisadores de vários Estados do Brasil e o público que compareceu para apreciar e participar desta festa teatral.

A diversidade estética, poética e de organização dos grupos e artistas performáticos que participaram deste encontro me deixou maravilhado e atônito com as mais variadas formas de manifestação artística popular, muitas vezes repletas de códigos e signos da cultura popular e as vezes contaminada pela cultura erudita ou conservadora.

Enfim, este encontro aumentou em mim a convicção de que há muito a ser debatido sobre esta forma de fazer teatro que já existe desde os tempos das cavernas. Há muito a ser pensado e mudado sobre como levar um espetáculo de teatro para o espaço público que são as ruas, praças, parques entre outros locais públicos, que podem ser utilizados para se fazer arte, sem as amarras da ideologia dominante e sim com os trapos da poesia itinerante.

Viva o Teatro de Rua!

Viva o Teatro na Rua!




Marcos Pavanelli

Núcleo Pavanelli de Teatro de Rua e Circo

Teatro de rua

Sexta-feira, 15 de maio de 2009
Teatro de rua

Amigos, como é encantador o teatro de rua! É só haver uma pequena aglomeração com alguém se apresentando em alguma praça, que vou parando para observar.
Na rua vi as apresentações mais poéticas e as mais bizarras. Mas nunca me aborreci. Paro para ver vendedores ambulantes que aproveitam a curiosidade do povo para vender produtos milagrosos oriundos da mais misteriosa floresta amazônica. Fico esperando a hora prometida que em que a cobra vai ser retirada de dentro da cesta mágica.
Tudo isso tem um pouco de teatro de rua. Mas não se compara, é óbvio, as refinadas manifestações teatrais que vi no 14º Encontro Nacional de Teatro de Rua em Angra dos Reis na semana passada.
Pela mostra, o teatro de rua brasileiro está fortíssimo e com energia para dar e vender. Fiquei dois dias e vi o grupo “Pombas Urbanas”, de São Paulo com seu espetáculo “Histórias para serem contadas”, um espetáculo comunicativo com atores excelentes. No mesmo dia vi o grupo Arte da Comédia, de Curitiba. A peça “Aconteceu no Brasil enquanto o ônibus não vem” divertiu o público com seu texto construído a partir de improvisações do elenco. Atores maravilhosos, bem ensaiados e coreografados nos mínimos detalhes.
Na mesma noite, iluminada por uma linda lua cheia, os meninos de Florianópolis, do Grupo Circo Negro, barbarizaram as ruas centrais de Angra com sua “Experiência Subterrânea”. No final da noite de sábado o Coletivo Pulso, de Belo Horizonte, encantou o público com a magia e a delicadeza de seu “Hai Kai – Somente as Nuvens Nadam No Fundo do Rio”. Figurinos imaculados, movimentos lentos e precisos, um poema teatral de grande impacto que termina num banho coletivo para surpresa do público que reagiu com simpatia e bom humor.
No domingo ainda pude me deliciar com o grupo mineiro Galpão Cine Horto e sua comunicativa e poética invenção de linguagem em “Arande Gróvore”. As crianças acompanhando aquela língua diferente inventada pelo grupo que é cria do Galpão, me lembrou alguns grandes momentos de Antunes Filho e Gabriel Vilela.
Fechei a noite vendo o excepcional “Famiglia Milan e o Gran Circo Guaraná com Rolha”. Que dupla maravilhosa de acrobatas! Uma pesquisa sobre o circo dos anos 20. Uma deliciosa viagem no tempo.
Não deu para ver tudo,mas pude acompanhar a emocionante homenagem que Amir Haddad e seu Grupo Tá Na Rua prestaram ao mestre Augusto Boal, recém falecido. Eles inventaram o espetáculo na hora. Amir falou com a propriedade de quem foi amigo dileto do grande homem do nosso teatro, um dos maiores que tivemos em todos os tempos.
Para quem acha que a ditadura foi branda, Amir colocou as coisas nos seus devidos lugares: “a ditadura roubou pelo menos uns oito anos úteis de Boal. No final de sua vida, as seqüelas da tortura brutal que ele sofreu se manifestaram roubando suas energias e se transformando numa leucemia devastadora”.
Na manhã de domingo ouvi junto com Amir, os testes do equipamento de som da segurança da usina nuclear. Deu medo ouvir aquelas sirenes ecoando pelas matas com seus gritos lancinantes que misturam a melancolia dos apitos das antigas fábricas com o som apocalíptico das hecatombes. Uma voz sinistra dizia: “continuem a fazer suas atividades normais, isso é apenas um teste”!
Ainda bem que eu estava com Amir Hadad e com o pessoal do teatro de rua. Nosso antídoto as incongruências da vida. E pude ver o pipoqueiro cumprimentando Amir pelo seu trabalho. Um dos momentos mais belos que já presenciei no teatro.


Paulo Betti

Fotos de Arcozelo

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http://www.slide.com/r/AB_NQt0Wgj-__VDtWydyuhSiiCxg9ZI_?previous_view=mscd_embedded_url&view=original


Parabéns Comissão Organizadora
pelo valor Histórico do Encontro
produzido.

Marcondes Mesqueu

Cícero Silva - Minas Gerais

Cícero Silva é diretor, ator e palhaço. Atua na rua e em espaços alternativos, já fez oficinas com Márcio Libar, Sue Morisson, Ângela de Castro, Tortel Poltrona, Ricardo Puccetti, Ana Luísa Cardoso, Bete Dorgam, dentre outros mestres na Palhaçaria. Vem oferecendo oficinas de palhaço e de teatro para grupos de teatro e leigos interessados em festivais de inverno e outros eventos desde 1998. É colaborador do Coletivo de Palhaços de Belo Horizonte. Em 2009 participou de um Intercâmbio de um mês com o grupo francês "Le Rire Medicen", pelos Doutores da Alegria (organização à qual integra o elenco), dentro das atividades do Ano da França no Brasil. É formado em Filosofia pela UFMG.
Participação em Eventos:
Festival de Inverno de Itabira-MG, Congonhas-MG, Diamantina-MG, Contagem-MG,Encontro Internacional de Palhaços Anjos do Picadeiro 6 (BA), Encontro Internacional Palhaçadas em Geral 1 (MG), Caravana de Palhaços Petrobrás de Juiz de Fora-MG, IMPETO (MG), Roda de Palhaços (MG), Semana Interplanetária do Palhaço (MG), Mostra de Teatro de Rua de Paraty (RJ), Mostra Teatro de Caconde (SP), dentre outros.
Oficinas como Professor:
- "Vivências Palhaçais"
- "Dramaturgia dos Objetos"
- "Oficina de Palhaço: um, dois, três... tente outra vez!"
- "Oficina de Comédia"
- "O Jogo do Branco e do Augusto na Arena dos Tolos"
Espetáculos:
- Espetáculo solo de palhaço "Titetê Quer Casar" vem sendo apresentado em várias praças desde 2006.
- "Um dia a casa cai" - intervenção cênica;
- "Ergometron: uma intervenção patético filosófica";
- "Intervenções Quase Espetaculares";
- "Teca & Titetê";
Espetáculos digidos:
- "O Primeiro Carro de Bombeiros Palhaços de MG" - Prêmio Estímulo ao Circo - Funarte/Petrobrás - 2008;
- "Circo Mico" - Cia El Individuo - 2008;
- "Tiro ao Alvo" - Cia Cadê Seu Clown - 2007;
- Baba de Palhaço; Baba de Mussarela; Preguiçosos no Mapa-Mundi do Brasil; Pátria Língua; Um Natal no País do Café, dentre outros.

Carta de Arcozelo

A Rede Brasileira de Teatro de rua reunida na Aldeia de Arcozelo, Paty do Alferes, Rio de janeiro, após 509 anos de domínio ideológico, resgatando a importância histórica e, inspirado no sonho do saudoso Paschoal Carlos Magno, vem afirmar por meio deste documento a luta pela possibilidade de uma nova ordem, por um mundo socialmente mais justo.

Nos dias 20, 21 e 22 de abril de 2009, no seu 5º encontro, a Rede reafirma sua missão: de lutar por políticas públicas culturais com investimento direto do Estado em todas as instâncias: municípios, Estados e União, para garantir o direito à produção e o acesso aos bens culturais a todos os cidadãos brasileiros.

A Rede Brasileira de Teatro de Rua criada em março de 2007, em Salvador/BA, é um espaço físico e virtual de organização horizontal, sem hierarquia, democrático e inclusivo. Todos os artistas-trabalhadores e grupos pertencentes a ela podem e devem ser seus articuladores para, assim, ampliar e capilarizar, cada vez mais, suas ações e pensamentos.

O intercâmbio da Rede Brasileira de Teatro de Rua ocorre de forma presencial e virtual, entretanto toda e qualquer deliberação é feita nos encontros presenciais, sendo que seus membros farão, ao menos, dois encontros anuais. Os articuladores de todos os Estados, bem como os coletivos regionais, deverão se organizar para participarem dos Encontros.

Os articuladores da REDE BRASILEIRA DE TEATRO DE RUA dos estados do AC, AL, CE, BA, ES, GO, MA, MG, PA, PR, RJ, RR, RN, RO, RS e SP, com o objetivo de construir políticas públicas culturais mais democráticas e inclusivas, defendem:

· A representação do teatro de rua, nos Colegiados Setoriais e Conselhos das instâncias municipal, estadual e federal;

· A aprovação e regulamentação imediata da PEC 150/03, que vincula para a cultura, o mínimo de 2% no orçamento da União, 1,5% no orçamento dos estados e Distrito Federal e 1% no orçamento dos municípios;

· O direito a indicação de representantes do teatro de rua nas comissões dos editais públicos;

· A extinção da Lei Rouanet e de qualquer mecanismo de financiamento que utilize a renúncia fiscal, por compreendermos que a utilização da verba pública deve se dar através do financiamento direto do Estado, por meio de programas e editais em forma de prêmios elaborados pelos segmentos organizados da sociedade; Para tanto em apoio ao movimento 27 de março sugerimos modificações no PROFIC (anexo);

· A criação de um programa específico que contemple: produção, circulação, formação, registro, documentação, manutenção e pesquisa para o teatro de rua;

· Que os espaços públicos (ruas, praças e parques, entre outros), sejam considerados equipamentos culturais em assim contemplados na elaboração de editais de políticas públicas e no Plano Nacional de Cultura;

· A extinção de toda e qualquer cobrança de taxas, bem como a desburocratização para as apresentações de teatro de rua garantindo assim o direito de ir e vir e a livre expressão artística;

· Queremos construir uma política de Estado em contraponto a políticas de eventos que o mercado vem nos impingindo. As iniciativas de governo em criar editais para as artes devem ser transformados em leis para a garantia de sua continuidade.

O Teatro de rua é um símbolo de resistência artística, comunicador e gerador de sentido, além de ser propositor de novas razões no uso dos espaços públicos abertos. Assim, instituímos o dia 27 de março, dia mundial de teatro e circo, como o dia de mobilização nacional por políticas públicas e conclamamos os artistas-trabalhadores e a população brasileira a lutarem pelo direito á cultura e a vida.

“O país se apresenta pelo teatro que representa”. (Paschoal Carlos Magno)


22 de abril de 2009

Aldeia de Arcozelo, Paty do Alferes, Rio de Janeiro

Rede Brasileira de Teatro de Rua



Anexo

Modificações no PROFIC

Art. 2º...
...

V. - Programas setoriais de artes, criados por leis especificas, com orçamentos e regras próprias.

(...)

§ 2º Fica instituído o programa Prêmio Teatro Brasileiro a ser definido em Lei específica, com o objetivo de incentivar o desenvolvimento do teatro brasileiro e o melhor acesso da população ao mesmo, através do fomento a:

I – Núcleos artísticos teatrais nas suas diversas modalidades, com trabalho continuado;

II – Produção de espetáculos teatrais nas suas diversas modalidades;

III – Circulação de espetáculos e/ou atividades teatrais nas suas diversas modalidades.

(...)

Art. 9º

I – Dotações consignadas na Lei orçamentária anual e seus créditos adicionais, nunca inferiores ao montante da renuncia fiscal disponibilizada para o incentivo de que trata o capitulo III desta Lei, garantido o mínimo correspondente a 50% (cinquenta por cento) do orçamento do Ministério da Cultura.